Sempre tive minhas duvidas se eu teria coragem de ir para uma guerra, apesar do meu entusiasmo sobre assuntos bélicos.
Pois bem, nada como as palavras de alguém que participou e estudou:
“capítulo IV
Do perigo na guerra.
Antes de o conhecer tem-se geralmente uma idéia mais atraente do que repulsiva. Investir sobre o inimigo em passo de carga, embriagado de entusiasmo – quem se preocupa então com as balas que assobiam e com os homens que tombam? Com os olhos fechados, apenas o tempo necessário para se lançar de encontro à morte gelada, sem saber se é a si ou a outros que ela poupará – e tudo isso no limiar dourado da vitória final, tendo à Mao de semear o fruto deleitável ao qual aspira a nossa ambição -, poderá ser isto difícil? Não é difícil e ainda parece menos do que o é na realidade. Mas esses instantes, que no entanto não são obra dum impulso isolado como se poderia julgar mas que se tem de aceitar como uma mistura farmacêutica, alterada e diluída pelo tempo, - esses instantes, como dizíamos, são muito raros.
Acompanhemos o novato no campo de batalha. À medida que dele nos aproximamos, o estrondo dos cachões, cada vez mais distinto, acaba por se misturar ao assobio das balas, que chama então a atenção do inexperiente. As balas que se põem a cair junto a nós. [...] As balas repercutem tão perto de nós, as granadas explodem a um tal ritmo que o lado sério da vida acaba por se impor à imaginação juvenil. Subitamente, um dos nossos amigos tomba [...] e damo-nos conta de que perdemos um pouco de calma e de presença de espírito, e até mesmo o mais destemido se sente desamparado.”
Referência:
CLAUSEWITZ, Carl Von. Da Guerra. Martins Fontes, 1979.