01/05/2010

Capítulo 1

Não bastava chamá-la do que era, gorda, era necessário acrescentar outros adjetivos, sinônimos ou não, para se referir a ela.
Claro que isso acontecia somente entre quatro paredes, mas se elas tivessem ouvidos escutariam: “aquela gorda balofa”, “a gorda explodida de gordura”, “a gorda fétida”, “a baleia explodindo de gordura”.

Cabe uma observação: nem tão gorda ela era, apesar de ser a mais obesa da vizinhança. Mas seu feitio, sua personalidade era tal que absolutamente ninguém em sã consciência sentia pesar em maldizer aquela criatura.
Era falsa. Falsa não somente consigo, mas também com os outros.
Se inveja matasse, sua família inteira faleceria devido à forca que punha em tal sentimento. Sempre que se colocava conversando com alguém que poderia oferecer algo de seu interesse, sua voz era suave, doce; algum desavisado seria capaz de se apaixonar pela pessoa que emitia tal voz só de ouvi-la.

Como era de se imaginar, aquela baleia fazia de tudo para andar na moda, claro, de pessoas com um décimo de seu peso.
Sua falsidade consigo mesma não a permitia ver o ridículo que se expunha ao testar as mais diversas combinações daquele mundo alienado, o mundo da moda.

Se fosse realmente possível a personalidade da pessoa torná-la feia, sem medo algum diríamos que esse era o caso dela.
Todos sem exceção já viram uma gorda simpática, bonita, e com tantas outras qualidades e virtudes agradáveis a qualquer bom convívio, mas aquela mulher conseguiu reunir em si todos os adjetivos que causam aversão.

Como já disse, não era uma desgraçada que havia sido desprezada pela natureza, mas alguém que amou e quis para si tudo na medida em que isso desagradava os seus próximos e fosse possível obter algum lucro.
Era esse o seu prazer, o seu passatempo. 

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